terça-feira, fevereiro 01, 2011

Poeta negro

Poeta negro, um seio de virgem
te persegue,
poeta agre, a vida ferve
e a cidade arde,
e o céu desfaz-se em chuva,
a tua pena arranha no coração da vida,

Selva, selva, pululam olhos
nas multiplicadas cúspides;
cabelos de tempestade, os poetas
montam cavalos, cães.

Os olhos enraivecem, as línguas volteiam
o céu aflui às narinas
como um leite vigoroso e azul;
estou suspenso das vossas bocas
mulheres, duros corações de vinagre.

- Antonin Artaud
(tradução de Joaquim Afonso)
in O Pesa-Nervos, Hiena

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