Ao pé da pedra a Árvore cresce. Prega o universo e ela retempera-se. As suas raízes vão sob a terra até ao Hospital e os seus braços quase cobrem o prédio. Dum lado o Hospital, do outro a Árvore. Só eles prosperam. Deita a Árvore pernadas e a cada Inverno o granito aumenta, qual outra árvore de pedra. Num corre seiva, no outro gritos. O Hospital tem raízes em toda a cidade.
A Árvore é quase uma construção. O tronco é corroído e as pernadas em cima torcem-se e esgalham-se. Suas raízes vão sugar no Hospital. Com os anos enlaçaram o granito, pouco e pouco desconjuntaram-no, abriram fendas para mergulharem mais fundo na miséria humana.
E para lá? o que há para lá? Ao findar dos dias sinto um ar vivo que é a respiração dos montes adormecidos, batendo nos muros compactos do Hospital e ruídos, claridades, mistura de oiro e verde, gorgolejos de minas, chuva de sol e de água, tombando. Arfa a terra, incham os montes e vogam no ar aspirações de árvores, murmúrios de fontes, o hálito das plantas ignoradas. Oh caem noites encharcadas de luar, em que se ouvem as lágrimas das noras paradas, caindo uma e uma na terra sequiosa e se pressentem diálogos de sonho entre os grandes pinheiros bravios...
E a Árvore, a este ruído, fica entontecida, abalada até às suas raízes mais fundas.- Raul Brandão
(excerto de Os Pobres)
domingo, fevereiro 13, 2011
A Árvore
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