terça-feira, janeiro 18, 2011

Os anjos

Todos eles têm bocas exaustas
e almas claras e sem costura.
E uma nostalgia (como no pecado)
viaja-lhes por vezes o sonho.

São todos entre eles muito iguais;
nos jardins de Deus calam,
como muitos, muitos intervalos
na sua força e na sua melodia.

Só quando abrem as suas asas,
despertam um vento:
como se Deus com as suas grandes
mãos de escultor passasse as páginas
do escuro livro do Génesis.

- Rainer Maria Rilke
(tradução de Maria João Costa Pereira)
in O Livro das Imagens, Relógio D'Água

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