terça-feira, dezembro 21, 2010

Carta de Outubro

Quão distante me pareces agora,
eco de uma era mais instável
do que a infância, do que a morte!

– um durável momento que passou
casualmente. E partiste, magoada
pela queda progressiva dos anos –

grandiosos e ridículos
os meus sonhos, suas emendas
não adoptadas na margem de risada.

É um tom
que tocámos: tu
que eu nunca conheci,

que nunca me conheceste, senão
por essa corda
infinitamente vibrada entre nós.

Por isso agora reconheço também
muitas ocasiões que nunca foram,
palavras por dizer, gestos
incompletos, a eterna
natureza de desperdiçada
e desconhecida intimidade.
Como agora estamos perto!

– o conjuro ecoante me liga
totalmente: um segredo, também,
sem o mínimo som.

- Peter Jay
(tradução de Manuel Seabra)
in Antologia da Poesia Britânica Contemporânea, Livros Horizonte

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