terça-feira, novembro 30, 2010

Sismo-gravura 2

A terra faz uma sismo-gravura de um golfo que se há de formar, da convulsão do planeta, do amor do planeta, a tua pulseira – dobrar as sombras (ver os sargaceiros a apanharem o mar inteiro e a porem o mar noutro lugar) a injectarem o mar na terra: os sargaceiros a dobrarem as sombras dos prédios, a metê-las numa mala cheia de arranha-céus e conchas de beijinhos, alguém na Coreia do Norte com um dedo indicador muito comprido, abrir a mala e desdobrar um salão de dança, dois ou três ditadores africanos com os seus calções apertados, alguém na Coreia do Norte com um dedo muito comprido – Não sou o tempo que demoram as ametistas a chegar ao fundo do mar – um botão? Dançar sobre um golfo que se há de formar, cheio de helicópteros a voar em direcção ao sol, os condutores dos helicópteros com as suas lancheiras na cabine, com as suas sandes de queijo, à espera do aviso, a história dos ouriços faz-me rir, a selecção natural deu-lhes a Defesa mas também a auto-mutilação quando os espinhos entram para dentro e magoam, não é placebo a perda, a dor, a alegria, é verdadeira em tudo verdadeira, Amo-te – Alguém na Coreia do norte com um anel de noivado a carregar num botão, a lembrar-se da sua primeira ida à escola, a selecção natural deu-lhe um dedo comprido – três chávenas de chá, os helicópetros a sobrevoarem um golfo que ainda não foi formado, há de se formar por uma placa tectónica futura, uma sismogravura do planeta, um beijo futuro em tudo futuro e pré-hispânico e etrusco e eterno, os teus pulsos, o bater do coração – Não sou o tempo que as ametistas demoram a chegar ao fundo do mar, estamos à espera que se forme esse golfo e que as suas margens sejam povoadas de dinossauros e delírio, e que o sangue dos dinossauros e a seiva das árvores, quê? Forme petróleo cristalizado, e depois sim, que se invente a gasolina, os helicópetros, se tracem fronteiras e aí sim, pode-se entrar em guerra, com um dinossauro estrábico a rir-se do seu próprio sangue negro correr nos aviões e fazer avançar a humanidade, à espera de uma metonímia presente, que abarque tudo, o líquido pré-seminal, o bater do coração, Santa Cecília com os seus phones cor de rosa, muitos fluidos. Adoro-te, Adoro-te Adoro-te: Rechear os canos dos canhões do Rio de Janeiro de cravos cobertos de leite condensado, como aconteceu onde? Revitalizar uma guerra de fronteira, em todas as favelas da cidade do México se acendem de um desejo Novo, injectar leite condensado na veia, um dedo comprido, para que é que serve a literatura senão para unir, Rechear de vento quente e chuva tropical o olhar carregado de cada norte coreano, fazer rir as estrelas, ser só ponta e união, anémona que se divide, hermafrodita na espera e no aviso nuclear, o mar do Japão iluminado à noite por uma carga eléctrica e salgada. Não sou o tempo que as ametistas demoram a chegar ao fundo do mar, sou a procura de Artur Thompson, a espera na loja de próteses, por algo que faça caminhar: um serão literário inoportuno. A espera doce e condensada do leite que azeda, gordo e da serra, por várias mãos, a espera das pantufas quentes da serra, as estrelas que lhe caem em cima, a água que desce e que sobe, o pão que amassam, o adocicar do palato. A espera de Artur Thompson numa praça de Andorra: Santa Úrsula com uma pen de 40 gigas, que informática é o nosso deus, em tudo binário mas único, que caminho industrial é ele, senão espera aflita e aguda, adoro ouvir a história dos ouriços do mar.

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