Lembras-te do número do quarto?
Ficava no prédio da rua cinzenta.
Havia uma garrafa de scotch na mesinha de cabeceira
E da janela viam-se os atacadores de sapatos grossos
E arma em punho.
É engraçado - o rapazinho parecia um pateta
Que ralava os nervos, de minuto a minuto
Porque tinha saído da escola e não gostava desses
Modos pedagógicos da permanente dos 40 anos.
Foi simpático ter vindo cumprimentar-me
À cidade, onde fui estudante míope
De fórmulas escritas
E de noites sem dormir,
Por causa da dispensa de favores
Em lençois manchados da calculada carícia
E da nobre solidão da luz do gasómetro.
Pois foi.
Estive muito tempo por outras paragens.
Apaixonei-me por uma mulher
Que colocava a hipótese de não gostar de mim
E depois gostei do marido.
Pelo menos, apanhei um táxi
E rasguei o fato de corte turco
Ao dar meia volta à minha vida
Fugindo dessa guerra onde se fecha suavemente os olhos.
Depois andei por aí
Na meiguice do vento e das tabernas,
Onde se aprende as coisas da terra.
Eu gostava da vida.
E as coisas passavam em filme
Nos vagos movimentos
Da película calada desses primórdios.
Vai um copo de vinho, leitor?
Perguntava o bibliotecário das lunetas.
Vai sim, meu amigo.
Deixe-me fechar o livro.
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