a falar-lhe de livros e de velhos filmes.
Mas estás mais crescido. Agora sabes que a elas
lhes aborrecem tipos que se enchem de nomes próprios,
que o teu bacharelato as deixa indiferentes.
De modo que a deixas tomar a iniciativa,
desligas e finges que escutas as suas histórias,
que invariavelmente -recordas de outras vezes-
versam sobre o amor, as viagens, a dietética,
a sua família, o verão, a boa forma física,
o além, as drogas e a arte pós-moderna.
De quando em vez assentes, cruzando o olhar
com o dela, passando-lhe a mão nas coxas,
e elevas aos céus uma angustiosa súplica
para que esta farsa termine o quanto antes.
Passarão, ainda assim, algumas horas
até que, ébria e afónica, se desmanche nos teus braços
e obtenhas a vitória pírrica do seu corpo,
que, apesar do que dizem três ou quatro amigos,
será muito pouca coisa. E, quando estiver a dormir,
sairás exausto à rua em busca de uma chávena
de café gigantesca, maldizendo as garrafas
que arruinaram o teu fígado na estúpida noite
e pensando que afinal vale mais a pena
não facturar mas falar-lhes dos teus livros,
amargar-lhes a vida com Shakespeare e com Griffith.
Ou arranjar uma surda para que não falte nada.
- Luis Alberto de Cuenca
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