terça-feira, agosto 10, 2010

As coisas

O bastão, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura ou as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, as cartas, tabuleiro,
Um livro e dentro dele a ressequida
Violeta, monumento de uma tarde
Decerto inesquecível, já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Tantas coisas,
Limas, ombreiras, atlas, taças, cravos,
Nos servem como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Duram para lá do nosso esquecimento;
Nunca saberão que já estamos ausentes.

- Jorge Luis Borges
(tradução de Fernando Pinto do Amaral)
in Obras Completas, vol. II
Editorial Teorema, 1998

1 comentário:

Alfredo Rangel disse...

Lindíssimo.
Que mais dizer?