Só vivo por completo quando volto a menino.José Maria Valverde
Deixo um trilho de migalhas
pelos corredores às enfermiças
aves de cores esbatidas, muito
quietas nas sebes de renda
do papel de parede. Um hálito
tépido anda atrás de mim pela casa,
as sombras deitam-se como animais
aturdidos aos cantos – esgaravatando,
mordiscando, urinando. Assobio-lhes,
a mim ignoram-me. Faz um calor
de merda aqui. Dou-me ainda pior
com as palavras que me chegam assim,
deixo-as, desisto. Volto por fim
da varanda arrastando uma frase
inteira.
Este castigo suave da tarde com a luz
a espreguiçar-se entre pátios meio
peculiares, no descanso dos caminhos
seguindo cigarros vadios que levam
devagarinho a nada, as bordas
tomadas de gravetos secos,
entrelaçados nuns soluços de cor.
O fogo e o mel, este balanço
entre euforia e torpor, e as pausas
selvagens que me engrossam o sangue.
Alguns fiapos de nuvem cosem débeis
castelos que o sol gosta de assaltar.
E por baixo as ruas deixam-se render
à bazófia dos putos, aos esquemas
e desafios que se lançam. Um bando deles
lixou os travões do volvo abandonado
junto ao parque. Agora revezam-se:
uns no interior e os outros a empurrar
a velha lata estrada fora. Que vontade
absurda de ir atrás. E já não tenho
idade para isso.
Fico-me pelas esplanadas, os sumos,
as bebidas de palhinha e chapéu,
letras de canções entarameladas
a marcar a francesa, cheiinha de sardas,
que hoje me esporeia a imaginação.
Aquela boca chutando vagas
exclamações: um clássico do cinema
mudo. Depois o sinal doce no ombro,
e os joelhos onde vem sentar-se a beleza
e me fixa rispidamente como se
perguntasse: Queres alguma coisa?
mordiscando, urinando. Assobio-lhes,
a mim ignoram-me. Faz um calor
de merda aqui. Dou-me ainda pior
com as palavras que me chegam assim,
deixo-as, desisto. Volto por fim
da varanda arrastando uma frase
inteira.
Este castigo suave da tarde com a luz
a espreguiçar-se entre pátios meio
peculiares, no descanso dos caminhos
seguindo cigarros vadios que levam
devagarinho a nada, as bordas
tomadas de gravetos secos,
entrelaçados nuns soluços de cor.
O fogo e o mel, este balanço
entre euforia e torpor, e as pausas
selvagens que me engrossam o sangue.
Alguns fiapos de nuvem cosem débeis
castelos que o sol gosta de assaltar.
E por baixo as ruas deixam-se render
à bazófia dos putos, aos esquemas
e desafios que se lançam. Um bando deles
lixou os travões do volvo abandonado
junto ao parque. Agora revezam-se:
uns no interior e os outros a empurrar
a velha lata estrada fora. Que vontade
absurda de ir atrás. E já não tenho
idade para isso.
Fico-me pelas esplanadas, os sumos,
as bebidas de palhinha e chapéu,
letras de canções entarameladas
a marcar a francesa, cheiinha de sardas,
que hoje me esporeia a imaginação.
Aquela boca chutando vagas
exclamações: um clássico do cinema
mudo. Depois o sinal doce no ombro,
e os joelhos onde vem sentar-se a beleza
e me fixa rispidamente como se
perguntasse: Queres alguma coisa?
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