Há uma história numa peça de teatro antiga sobre pássaros chamada Os Pássaros.
É uma pequena história dos tempos em que o mundo ainda não tinha começado,
desses tempos em que não havia terra, nem chão,
só ar e pássaros por todo o lado.
Por isso a questão era não haver espaço para pousar.
Porque não havia terra.
Por isso os pássaros limitavam-se a voar em círculos sobre círculos.
Porque isto foi antes do mundo começar.
E o som era ensurdecedor - cantos de pássaros por todo o lado:
biliões e biliões e biliões de pássaros.
E um destes pássaros era uma cotovia cujo pai um dia morrreu.
E isto revelou-se realmente um grande problema porque o que se deveria fazer com o corpo?
Não havia espaço para o colocar porque não havia terra.
Finalmente a cotovia encontrou uma solução.
Decidiu enterrar o pai na nuca da sua própria cabeça.
E isto foi o começo da memória.
Porque antes disto ninguém conseguia lembrar-se de nada,
limitava-se a voar constantemente em círculos,
a voar constantemente em grandes círculos.
(Versão minha; o original - reproduzido em Homeland, Nonesuch Records, Nova Iorque, 2010 - pode ser ouvido aqui).
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