sexta-feira, julho 09, 2010

Eu sei quando falas verdade.

Sempre percebi que o olhar não pode mentir às mãos que vão traduzindo um trajecto em ruela. Sei que existem mãos gretadas e mãos limpas de gabinete, em avenida importante. E outras mãos que limpam a face do filho que vai arrumando as malas na viagem que fez e vai fazendo, depois da mãe ter chegado ao quarto e ter reparado que a flor envelheceu e o mar tem outros barcos, distantes do cais.
Até podemos falar de um retrato fiel do mundo, a partir desta mulher que vai ficando velha, bem como da flor e do filho.
Eu tenho mãos que sujei à porta do estábulo. Foram gastas com a nova cama da égua e com o arame dos fardos de palha, comprados em Beja, à mulher dos olhos verdes. Engraçado, reparei sempre nas mãos dessa mulher, e na cor do seu olhar, ao levar vantagem no preço do gado e da erva seca.
Eu tenho mãos que sujei à porta de um bordel. Ela deitou-se de lado, mas eu preferi sair e procurar um amigo a quem contar estes pormenores de uma mulher de olhos verdes, que se deitava numa cama de piolhos.
E as minhas mãos (sim, as minhas, as que não têm história) foram sempre bem lavadas.
Chego a casa.
Cumprimento os meus. Mas cheiro demasiado a sabonete.

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