CAFÉ DE SUBÚRBIO (13)
Admitiram um empregadito,
Pau para toda a colher:
Com que pesar o vejo ver-se aflito
Pra servir e atender!
Os clientes da sua idade
Entram e saem sem lhe darem atenção,
Enquanto ele, suado, acarreta uma grade,
De cerveja ou de cola, pra detrás do balcão.
Limpa, pela manhã, os vidros das vitrines,
Sem energia e sem cuidado.
A fralda fora dos jeans,
O rosto imberbe corado.
Hoje, porém, reparo
No olhar interessado, demorado e contente,
Posto em seus olhos verdes e cabelo claro,
De uma bonita cliente adolescente.
Ele, não sei se reparou. Mas com que graça
Corou mais (ou será da manhã fria?)
E pronto começou a limpar a vidraça
Com cuidado e energia!
- António Manuel Couto Viana
in As escadas não têm degraus, nº4
Cotovia, 1991
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