sábado, junho 05, 2010

Guardo a nitidez dessa tarde.
Morria o sol lá longe, para lá de qualquer história relatada.

O pátio apinhado de gente.

Tu circulavas em gin tónico ou cerveja
De copo.
Gostei muito da circulação rodoviária
E das tuas lições de arquitectura, quando conheci
A mesa em estirador.
Constrói uma casa pela raiz - dizias.
Não esqueças as paliças meridionais desses mares
Que foram cruzados no teu sangue.
Não esqueças as absurdas evidências
De teres encontrado o teu irmão
Ilegítimo no cais de embarque, quando o Chile
Era o verbo futuro de trabalho ou repouso.
Como vês,
Encontrei-te passado algum tempo
E não viajei
Neste retrato de partires a reclamares heranças
Que o teu pai quisera dividir.

É tarde para estas certezas.
O teu irmão envelheceu sem ter criado ervas daninhas
Ou malvas nos teus olhos aguçados de não
Dividires cadeiras em sementes.

Guardo a nitidez dessa tarde.
Observavas o teu irmão
Como quem escuta a canção impossível
E o gira-discos
Dizendo que é roda curta
O que é preciso à melodia.

Dançámos com a música.
Eu fiz de conta que estava feliz e sei - tu disseste
Em lábios fechados:

Tive pena de não conhecer o meu irmão.

E pediste outro
Tango.

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