terça-feira, junho 29, 2010

Certamente, meu primo

Honrarei as obrigações entregues a meu pai.
Algumas mulas carregadas neste penhor
De um empréstimo.
E, descansa, sairei desta precária situação
Em condescendência e confiança
Por causa das cadeiras herdadas
No dia em que ele torcia as mãos,
À porta vazia do cubículo
E onde se via a praia de Consac e os odiosos velhos.

Eu era como um homem desesperado
A descobrir serpentes no avesso de viver.
Meu pai declarava-se do lado dos condutores
De antigas caravanas que cobrem as unhas dos pés, prostrados,
A murmurar um povo
Como o barulho do mar que se ouve do vestíbulo
E nas mesas baixas onde repousam as ânforas de metal.

Eu sentia que os homens trepavam as casas,
Vozes ecoavam no molhe
Onde a multidão abria a vela convexa do mastro
E onde os cavalos mergulhavam as suas patas
De asas compridas, numa orgulhosa e feroz despedida.

Devo, a meu pai,
Um labirinto de ruelas
A tarde em que fiz prisioneiro
O homem que fingia estar de sangue derramado
Por causa de um rochedo preso na garganta de Sicó.

Devo, a meu pai,
A mancha diária que uma piroga
Deixava na praia de Consac
E as vésperas de uma conversa
De um fogueiro
De génio impagável
Que falava do comércio na feira de Sinac
E do exército republicano.

Certamente, meu primo.
Depois de uma ferida,
A cura
E a cicatriz aberta da praia de Consac
Em amarga melancolia.

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