Arquejam, em derramada sombra,
duas sombras vivas, fossam o nada,
e nele se alimentam.
______________São farrapos de luz,
e à sua luz vêem-se olhos, coxas e cabelos,
enquanto a sombra se extingue contra a sombra,
e o repouso nos lençóis
das fúrias do corpo
é o agradecimento de quem vai morrer,
e sem pedir a vida, a vida o transborda
até negar a morte miserável,
a ferrugem dos corpos ainda vivos
e as sombras já ocas dos mortos.
- Francisco Brines
(tradução de José Bento)
in Ensaio de uma despedida, Assírio & Alvim
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