Às vezes
Por onde vou
Plátano a quem cortaram os ramos
Dias de silêncio
E água - furtada
Às vezes, tudo isto - acreditem - é um pouco a história do que sou.
Falésias
Um pequeno promontório
Uma praia despida e o mar.
O grito de uma criança e da mãe chorando, num enredo televisivo.
Ou melhor,
Da criança eternamente só
Sem saber de si. Coisas de miúdos, grandes tragédias.
Na altura tinhamos pena de certas coisas.
Hoje
Somos indiferentes aos cães que passam junto à nossa porta.
Que vão mordendo e que caminham com ciganos de carteiras alheias.
Mas existe um ressoar de vozes não esquecidas.
Coisas inúteis ao leitor
Que terá uma diferente experiência
Das pequenas frustrações
Da ideia que tem de um plátano de ramos cortados.
A noção do modo como se perdem os afectos neste jardim chamado esquecimento.
Ao inclinarmos a cabeça perante o papel
De óculos graduados
Ou sem lentes (chegámos à idade de uma árvore)
Somos um pouco de uma pequena história de tanta gente
Que grita no pequeno jardim
À procura da coisa indefinida
Que não é flor, lago nem Outono.
O frio, leitor
Ou seja, o calor entre dois corpos
Ou o teu amigo que regressa de bicicleta
É lá fora, na rua, nesse Verão de Tílias.
Não é comigo. Eu apenas sei dos meus
E sou um pouco como tu - sei que faz frio
Cheguei do deserto
E de um tanque de rãs com sol a pique.
E ainda procuro - sim, parecendo que não -
Uma ida à rua das Tílias
Não inscritas no poema.
Uma rua. Apenas um tempo de chão.
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