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ninguém passará por esta porta
por este ar lacrado a ouro e uva
por esta fenda cosida
pelo sabor da pele queimada
do lado de dentro da penumbra dos dedos
o mar avança sobre o cimento
o mar avança sobre as casas
ouço o som o som do sangue vivo vejo
as lutas dos lacraus dentro
dos odres onde
a letra
sabe a madeira queimada
a água nua a carne
atada
a mastros de navios
incitados a grandes viagens – não-siderais
sou pelos talefes dos dedos
pelo lacre circunspecto
sou pela cor e
pelo cheiro do mel onde
nas vinhas o odor inebria os membros
e as tardes caindo a cinzel e luto
e como se não fosse suficiente o ardor
trouxeste-me uma árvore inteira
na raiz dos teus quadris e
nos olhos a ambiciosa tentação de
destruir os lugares hoje
trazes-me os delitos e a inaudita volúpia
das raças antigas e
a contemporânea idade das palavras
mais ilícitas
no brevíssimo odor dos cereais
no brevíssimo calor dos teus dedos
no entanto não passarás por esta porta
pudesse eu encontrar a voz que é minha
como um imenso dia de verão
deitado entre rios aquecido
entre umbrais de maio
encontrar o teu rosto moldado em seixos
pelas lutas agrárias de todos titãs antigos
e abrir-te-ia a porta
para o centro dos horóscopos
(sim vem revelar-te-ia origem de todos os mistérios
mas só daqueles que não têm nome)
nada é sideral nada é terrestre
apenas um gesto que divide o mundo em dois
é todo o alimento da minha fome
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