sexta-feira, abril 16, 2010

Marquis de Sade no asilo de Charenton

Dirijo-me a pessoas capazes de me entender:
a esses escritores perversos e a essa gente
imoral que, tão rara, se não encontra
nunca aos pares num mesmo lugar.
E esqueço-me a lembrar elegantes indecências,
discretos evangelizadores do vício capazes
de ultrajar com um dedo a mãe-natureza.

___Em vão me inquirir sobre o amor.
Não sei, não conheço essa prisão injusta
de uma vida entre aurículas e ventrículos.
Conheço apenas a liberdade de fornicar
um e outro corpo e deixar em cada um
a cicatriz da minha presença. É tudo
e é pouco o tempo que me resta:
– a morte é próxima, l'échafaud de la nature.

- Paulo Teixeira
in Descanso na fuga para o Egipto, Caminho

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