sexta-feira, abril 09, 2010

Ginásio de Ressentimento

Excerto do artigo À Sombra de Um Toldo Vermelho, que deve ser lido na íntegra aqui.

Na LER de Abril, Jorge Reis-Sá (JR-S), co-autor da mais bem comportada antologia de poesia portuguesa, rejubila com o que designa por «Um Toldo às Escuras» e que lhe parece ser a fatal queda no abismo de uma tendência poética.

Enredado em estéreis disputas, JR-S pretende ajustar contas com os poetas «sem qualidades» que teriam nascido sob a «tutela oficial» de JMM. Na verdade, JMM, referência em termos ensaísticos, sempre parece ter esperado dos outros poetas que recusassem influências, como ele recusou, por exemplo, a de Herberto Hélder. E talvez não seja sequer gratuito colocar a hipótese de, em Um Toldo Vermelho, ter procurado fugir à influência que a sua anterior poesia exerceu sobre ele próprio.

O cronista da LER abdica de qualquer pretensão interpretativa ao considerar Um Toldo Vermelho um livro «sem sentido». No fundo, limita-se a hesitar entre dois receios. O de que a ruptura, que considera desastrada, de JMM dê agora «uma importância desmedida a alguns poetas da nova geração» e o de que possa dar origem «a uma nova prole de filhos pródigos (quiçá os mesmos também revolucionários?)». Por isso termina prevendo que a «análise absoluta e encartada» do livro «será feita por alguns críticos hebdomadários com contorcionismos analíticos dignos do Circo Chen».

Há demasiado tempo que não frequento circos. Mas acho os seus acrobatas mil vezes preferíveis aos penosos esforços de um poeta e editor halterofilista que, num Ginásio de Ressentimento, procura erguer pesos que excedem as suas forças.

As tendências e as suas infindáveis disputas sempre foram a flor de sal da vida poética. Só que em geral, como no caso dos real visceralistas mexicanos ficcionados por Bolaño em Detectives Selvagens, possuem um certo garbo intelectual. Mas os chamados «poetas sem qualidades» só inspiram a JR-S aguados desejos de vingança.

- Francisco Vale

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