sábado, março 13, 2010

Paráfrase lunar

A lua é a mãe do patético e da piedade.

Quando, no mais fastidioso fim de Novembro,
A sua velha luz se alonga pelos ramos,
Frágil, lentamente, dependendo deles;
Quando o corpo de Jesus queda num palor,
Humanamente próximo, e a figura de Maria,
Tocada pelo orvalho, se recolhe num abrigo
Feito de folhas, que apodreceram e caíram;
Quando sobre as casas, uma ilusão dourada
Traz de volta uma época primitiva de paz
E sonhos pacificadores às pantufas no escuro –

A lua é a mãe do patético e da piedade.

- Wallace Stevens
(tradução de Jorge Fazenda Lourenço)
in Harmónio, Relógio d'Água

Sem comentários: