Ah, deixem-me ser simbólico! Deixem-me dizer com ênfase que as azedas eram a liberdade.
Sim, a liberdade! A liberdade conquistada. A liberdade, amarga e doce, obtida, ontem como hoje, como amanhã, como sempre, à custa de sacrifícios sem nome: de zeros, ralhos, incompreensões, quartos escuros, puxões de orelhas, ponteiradas nos dedos, reprovações, descomposturas da família, e caretas, muitas caretas, imensas caretas.
Mas digam-me lá: onde estão as azedas da minha infância que nunca mais as vi? Onde crescem agora? Em que pátios em ruínas? Em que quintais perdidos ao pé de que nespereiras? Onde? Onde? Onde?
Dêem-me azedas! Quero azedas. Tragam-me azedas. Quero morrer a fazer caretas!
- José Gomes Ferreira
in O Mundo dos Outros
quarta-feira, março 31, 2010
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poesia de fora
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