Voltaste à cidade, embora não saibas
muito bem a quê. Regressas com um fato
gasto, um chapéu azul de aba
levemente caída, um sobretudo mau
e a mala com o fecho estragado.
No passeio pousaste a tua mala
e com os braços queres erguer-te
sobre o muro. Aquele terreno vazio,
um tempo, protegeu as velhas paredes
de um hotel. Um hotel barato e sujo,
sem empregados à porta nem elevadores,
muito perto dos molhes de poente.
Porque voltas a este lugar decrépito,
sem carácter, que é agora um campo
de imundícies? Não haverá nada na tua vida
que te ofereça lembrança melhor? Nada
que te mostre uma imagem menos sórdida
de ti? Que te persegue até àquela
noite, até ao fio que beijava
os teus olhos e a tua testa, com violência,
em cada um dos abanões?
Nenhum outro lugar, outra memória?
- José Ángel Cilleruelo
(tradução de Joaquim Manuel Magalhães)
in Antologia, Averno
domingo, fevereiro 21, 2010
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