domingo, fevereiro 28, 2010

«TRILCE», LX


É de madeira a minha paciência
surda, vegetal.

Dia que foste puro, menino, inútil,
que nasceste nu, as léguas
da tua marcha vão correndo sobre
as tuas doces extremidades, esse taciturno
vinco de depois despia-se
não se sabe em que últimas fraldas.

Constelado de hemisférios de grumos,
debaixo de eternas e inéditas américas, de grande plumagem,
partes e deixas-me sem a tua ambígua emoção,
sem o teu nó de sonhos, domingo.

E já me apodrece a paciência,
e volto a exclamar: Quando virá
esse domingo bocarrão e mudo do sepulcro;
quando virá a carregar este sábado
de farrapos, esta horrível sutura
do prazer que nos engendra sem querer,
e o prazer que nos desteRRa!

- César Vallejo
(tradução de Eugénio de Andrade)
in Trocar de Rosa, Fundação Eugénio de Andrade

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