sexta-feira, fevereiro 12, 2010

fragmento (de um conjunto)

*
o mundo ab-rogação cerce ao rosto sempre
intocado e a voz que constrói
ilhas dentro do vento e da lava

(e apenas eu para te tocar as mãos -
junto do odor dos cereais)

talvez isto seja um movimento impossível - os nomes



só as mãos conhecem os frutos

os rostos construídos unanimemente
fincados na iminência sonora da água
vindos da insondável sombra dos olhos


e ao largo em quintais
a plaina rasa
das paisagens

e a mão que procura atrás dos olhos
o encantamento
das sombras
e o fio-de-prumo
circunscrevendo as macieiras em flor

e depois o pó puro quadril encetado

leito melódico como se fosse

pele púrpura carne lenta ou os nomes

a tenra raiz do leite
(ou mater)
ou a tua mão na raiz dos meus olhos
fazendo(-me)

a oclusão da linfa nos recessos, ou (ainda)

o idioma de deméter, com
o seu ventre de água
o seu pulmão de enxofre, ou o rosto
de helena
aquela que me dá a mão no dia do juízo
sob a sombra da macieira, em quintais
- e a doçura das mãos


aquela que me segreda a cor das uvas
e o tear plantado na planície entre os cardos

aquela que me faz
(um verso absolutamente a-cronológico e geográfico)
o arado deixado entre o veneno e a saliva

aquela que é (palavra)
memória decantada desde o cume da sombra

aquela que me conhece os olhos por dentro do mel, e
quartzo arterial mediado por fala fome sede e asma

aquela em que conheço

o fogo da prata por dentro da sede


aquela que me faz

o lugar para a ausência viva

para a fermentação do sangue em poços



talvez me traga a fecundidade dos quintais
(e um ou outro sonho burguês amaldiçoado
diante das fontes)

ou as mãos como
um difusor de frutos
um íman de janelas
( ou a grécia face)

a pele como um fuso solar,
ou o dínamo alpestre das hortênsias

(e toda a culpa de não ter leis a que obedecer)


aquela que me planta

por detrás da laranjeira a hermenêutica
dos anjos teares
desfiados em transtorno e maresia

talvez seja aquela que me faz

o sol negro desenhado na face regada
desde da raiz do chão

a boca sublevada -
aquela que me matura - vertical face
ao crescimento da noite
e da água dentro dos olhos

(dos mortos)
perpendiculares no meu idioma
em silos

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