as amoras caídas e os limos
subindo a encosta, este dia
mudo e a solidão
dos barcos que largam do porto
enquanto dormes
o gato espia do telhado
a vida a partir
em cada comboio que passa,
o tempo que se arrasta
na dor metálica dos carris.
é feriado nas mãos,
trago uma canção triste
e o teu rosto no bolso.
o vento agita as sombras
na minha mão, lança-me
vultos, um nome em chamas, versos
afiados contra os dedos.
sempre pressenti a distância mínima
entre o poema e o medo
de não saber regressar a casa.
já ninguém nos toca à porta
a vender cerejas.
devíamos talvez lembrar
à terra o nosso nome
plantar sílabas frescas
que nos matem a sede
ter um pingo de esperança
na morte depois da vida.
- Renata Correia Botelho
in Um Circo no Nevoeiro, Averno
______________retirado daqui
terça-feira, fevereiro 09, 2010
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poesia de fora
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