«Na literatura, como em todas as artes, importa menos o que é dito do que o modo como é dito. Este reiterar da valorização do “modo” não traduz nenhuma postura estética de raiz formalista, mas a convicção de que a identidade de uma obra de arte se joga no interior de um processo complexo de potenciação das possibilidades representacionais de uma dada linguagem. Este “modo” consiste, precisamente, num nome possível para a capacidade que uma dada escrita tem ou não tem para corporizar um dado conteúdo (semântico, afectivo, etc.) numa dada linguagem. A força ou relevância do primeiro é directamente função da força da segunda. É admissível pensar que num dado contexto histórico e artístico, nada de muito relevante distingue ao nível do conteúdo (e esta dicotomização é claramente forçada) a generalidade dos agentes criativos: do ponto de vista temático nada de muito substancial distinguirá a poesia lírica de Camões da dos seus contemporâneos — uma e outras são o resultado da interacção entre a percepção subjectiva de uma experiência cultural de mundo que é partilhada, respondem por uma noção de poesia que é comum. A diferença é de grau e diz respeito à capacidade de, numa paisagem partilhada, produzir usos da língua que potenciem a profundidade da experiência proposta, que potenciem a riqueza daquilo que é dito. Não se trata de uma questão estritamente formal, mas implica a dimensão forma como constituinte.»
in Contra Mundum
sexta-feira, novembro 13, 2009
O "modo", ou o Estilo
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