domingo, novembro 01, 2009

o insustentável peso das maçãs

desperto sem outros olhos que não a pele. sinto as memórias por um caroço que trago fundo em mim. o futuro tem a cor da minha imaginação e toda ela está consagrada a uma espera de décadas para afirmar a leveza do sabor. saboreio dando tempo ao tempo para ter o tempo por dentro, a assistir e participar do insustentável peso das maçãs. se te digo cor é para consagrares as aparências com as essências e encontrares cada uma em cada mão. agora abre os olhos: o que farias hoje se hoje fosse tudo o que tivesses sem haver um amanhã? já sei. vou comer uma maçã e lembrar-me de um amigo que em tempos tive e que infimamente conheci. faço o que ele faria, também, com prazer e calma de quem não diz adeus mas até depois. nada me fará esquecer de sentir o apito do barco, o cheiro do pão pela manhã, a frase dita com carinho aberta a uma morte feliz. a maçã caiu. novas árvores virão.

- Gonçalo Castelo Branco

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