terça-feira, novembro 17, 2009

A. M. Pires Cabral (2)

Vos estis sal terrae



Também eu sou sal da terra.
Não o sal que corrompe,
mas sim o que preserva, perpetua a vida.

Também eu trago acomodada
em algum lugar de mim

- como a bala que se foi alojar
num desvão melindroso do corpo
e seria arriscado extrair
e ali fica a pesar -

a vocação de estrume
com que já nasci armadilhado.



(in As têmporas da cinza, Cotovia, Lisboa, 2008, p. 53).

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