segunda-feira, novembro 09, 2009

Juramento

Jamais vos esquecerei mulheres raparigas – efémeras
entrevistas subitamente no meio da multidão na escadaria no
mercado
no dédalo do metro
nas janelas dos automóveis
– como clarões de calor - presságio de bom tempo
– como uma paisagem embelezada pelo seu reflexo no lago
– como uma aparição no espelho
nos esponsais daquilo que é
e daquilo que é apenas pressentido
– no baile
quando a orquestra deixa de tocar
e a aurora coloca nas janelas
círios por acender
jamais vos esquecerei - fonte pura de alegria - vivi também graças
aos vossos olhos de corça
graças às bocas que não eram minhas
às mãos catanho-amareladas que escolhiam como se estivessem acari-
ciando peixes de prata

pequena rapariga das Antilhas é de ti que me lembro melhor
não te vi senão uma só vez chez le marchand des jornaux
olhei-te mudo retive a respiração – para não te assustar
e durante um instante pensei que – caminhando contigo
teríamos mudado o mundo

Jamais vos esquecerei –
o movimento aturdido das pálpebras
a indescritível inclinação da cabeça
o ninho da palma

na minha memória fiel repito
rostos imutáveis místicos sem nome

e a rosa

nos cabelos
negros

- Zbigniew Herbert

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