A poesia tem largas bancadas, uma gente abespinhada que fica meio fora meio dentro a dar indicações, uns tipos com cartão de sócio que vestem de gabardina e vêm de treinadores com os apitos, listas de convocados e blocos de notas todos riscados com as melhores estratégias para a vitória. Espera-se muito dela ainda, e ainda não se sabe bem o quê, mas serve de assunto a quem deles tem falta, a poesia, que afinal não é nada, um saco que enche e enche de ar para subitamente explodir, sem dessa forma comprimida resultar nada. Mas é assim, e não deve passar-se de um modo muito diferente no caso da pintura ou da música. Só que com estas e outras, talvez mais público signifique maior liberdade, uma escala de tons superior e um gosto que, saudavelmente, varie o bastante para que os inevitáveis, os do costume, assumam aí algum pudor nos seus exercícios para castrar, emparedar as coisas, limitar o espaço à circulação.
Se a poesia, seja ela o que for, pudesse não ser um castigo, um sacrifício a favor de supostos e cansados benefícios culturais, se a poesia pudesse significar só um gosto que é ganho pelos sentidos que se formam e seguem em verso, como quando se desenha e não interessa de imediato o quê, nem para quê, mas faz-se um desenho e isso parece natural, antes de ser mau ou bom, talvez a sua experiência pudesse crescer e revigorar-se. E mesmo quando seja um garoto que vai directo à folha, desenha com uma mão bem firme e não corrige uma linha mas parece contente com o que consegue, mesmo aí, não vejo ninguém (investido de bom senso, pelo menos) vir a correr para dizer-lhe que não é assim que se faz. Faz-se como então? Seguindo os pontinhos numerados na página?
Vão lá para o caralho com as lições, ensinar etiqueta e bons modos aos vossos filhos.
Que a poesia seja um recreio, que as qualidades, como o domínio da bola e a pontaria, venham com o tempo, e de cada um experimentar os seus alvos. Se não estamos a atirar à vossa baliza não se metam no caminho da bola. Se não querem jogar com os outros, joguem à parede, fiquem na sala de aula à espera que o intervalo acabe ou vão para casa, onde de certeza (?) haverá quem vos ache crianças muito especiais.
Em suma: uma coisa é aceitar um esforço e o seu resultado, comentá-lo criticamente valorizando certos aspectos, desvalorizando outros, mas desqualificar um esforço, não reconhecendo a sua intenção nem objecto é um exercício inútil. O recreio, meninos, é para todos.
Se a poesia, seja ela o que for, pudesse não ser um castigo, um sacrifício a favor de supostos e cansados benefícios culturais, se a poesia pudesse significar só um gosto que é ganho pelos sentidos que se formam e seguem em verso, como quando se desenha e não interessa de imediato o quê, nem para quê, mas faz-se um desenho e isso parece natural, antes de ser mau ou bom, talvez a sua experiência pudesse crescer e revigorar-se. E mesmo quando seja um garoto que vai directo à folha, desenha com uma mão bem firme e não corrige uma linha mas parece contente com o que consegue, mesmo aí, não vejo ninguém (investido de bom senso, pelo menos) vir a correr para dizer-lhe que não é assim que se faz. Faz-se como então? Seguindo os pontinhos numerados na página?
Vão lá para o caralho com as lições, ensinar etiqueta e bons modos aos vossos filhos.
Que a poesia seja um recreio, que as qualidades, como o domínio da bola e a pontaria, venham com o tempo, e de cada um experimentar os seus alvos. Se não estamos a atirar à vossa baliza não se metam no caminho da bola. Se não querem jogar com os outros, joguem à parede, fiquem na sala de aula à espera que o intervalo acabe ou vão para casa, onde de certeza (?) haverá quem vos ache crianças muito especiais.
Em suma: uma coisa é aceitar um esforço e o seu resultado, comentá-lo criticamente valorizando certos aspectos, desvalorizando outros, mas desqualificar um esforço, não reconhecendo a sua intenção nem objecto é um exercício inútil. O recreio, meninos, é para todos.
1 comentário:
Estou contigo. Além de que disseste a principal mensagem na 8ª linha a contar do fim. Não sou um leitor muito empenhado mas sinto que é um tanto estúpido atacar a "nova poesia" porque de nova ela não tem nada. Nunca tanto como hoje, também o romance apresenta várias roupagens e continua a surpreender, como espero, a poesia continue a surpreender, a revolucionar.
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