terça-feira, outubro 13, 2009

Meditação de um soldado de infantaria no campo de batalha (talvez no século XVIII)

O que hoje se escreve
é para mim
de tal forma obscuro
que não consigo
aproximar-me
minimamente do sentido
das palavras.
Coloco, por isso, a luz
do sol
sobre os textos.
Mas o foco fortíssimo,
ao invés de trazer
claridade,
faz emergir as camadas sucessivas
de que eles se
compõem: janelas,
portas, bandos
de aves que
à medida que leio e escavo
revelam outras janelas,
portas, bandos
de aves
ainda e sempre
mais escusos
e inumeráveis. Pelo que,
para não enlouquecer
de vez,
assesto a arma,
fixo o olhar num dos soldados
da vanguarda
à minha frente
e ponho-me a reflectir sobre
a única questão
que me parece digna
de glosa num tratado
de poética contemporânea:
como fazer
a pederneira comunicar
o lume à pólvora
para que o tiro seja
efectivamente
disparado?

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