sábado, outubro 31, 2009

Corona

Na minha mão come o Outono a sua folha: somos amigos.
Descascamos o tempo das nozes e ensinamo-lo a andar:
o tempo retorna à casca.

No espelho é domingo,
no sonho há espaço para dormir,
as nossas bocas dizem a verdade.

O meu olhar desce ao sexo da amada:
olhamos um para o outro,
trocamos palavras sombrias,
amamo-nos um ao outro como borboleta e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o mar no raio de sangue da lua.

Estamos abraçados à janela, olhamo-nos desde a rua:
já é tempo que se saiba!
Já é tempo de a pedra fazer um esforço para florir,
que à inquietude lhe palpite o coração.
Já é tempo que seja tempo.
Já é tempo.

- Paul Celan

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