Cada poema que escrevi foi, para mim, uma ocasião de primeira grandeza. Tanto assim que, creio, consigo recordar as circunstâncias emocionais que estavam em jogo quando escrevi o poema, o que me rodeava fisicamente e, até, que tempo fazia. Sob uma certa pressão, penso que poderia quase nomear o dia da semana. Em grande parte dos casos, sou capaz de lembrar-me, pelo menos, de que poemas foram escritos durante a semana ou ao fim-de-semana. Na sua maioria, certamente, posso recordar o momento particular do dia em que os escrevi - de manhã, ao meio-dia, à tarde ou, muito de vez em quando, noite dentro. Este tipo de evocação não se verifica com a ficção que escrevo, especialmente com as histórias que escrevi no início da minha carreira. Quando olho para trás, para o meu primeiro livro de contos, por exemplo, tenho que dar uma olhadela às datas de edição até para ter a certeza do ano em que as histórias foram publicadas, e a partir daí posso conjecturar - acrescentar ou tirar um ano ou dois - sobre quando é que elas terão sido escritas. Só em alguns casos muito específicos sou capaz de me lembrar de alguma coisa em particular, ou fora do comum, relativamente ao período em que escrevi uma ou outra história, ainda que fique de lado aquilo que estava a sentir no momento em que o fiz.
Não sei explicar por que razão me lembro tão claramente do momento e das circunstâncias envolvendo cada poema e, pelo contrário, não recordo grande coisa sobre a escrita dessas histórias. Penso que, em parte, isto tem que ver com o facto de que, na verdade, eu sinto que os poemas me são mais próximos, mais especiais, são mais uma oferta recebida do que o meu outro trabalho, ainda que eu saiba, com toda a certeza, que as histórias também não são senão ofertas que me foram dirigidas. É possível que, no fim de contas, eu atribua um valor mais íntimo aos poemas do que às histórias. (...)
(versão minha dos dois primeiros parágrafos do depoimento do poeta, reproduzido em The generation of 2000 - contemporary american poets, organização de William Heyen, Ontario Rewiew Press, Princeton, New Jersey, 1984, p. 24).
Sem comentários:
Enviar um comentário