Para mim, os poemas fazem-se de inesperadas ligações. Quando começo a trabalhar num poema, muitas vezes tenho uma mão cheia de imagens que parecem unir o passado e o presente. Trabalho com estas imagens e com as histórias que elas vão abrindo à minha frente - até que reconheço, exactamente, quais são as ligações. Aquilo que descubro é quase sempre ligeiramente diferente daquilo que eu pensei que viria a descobrir - o poema acaba a uma pequena distância do ponto para onde eu julgava que ele se dirigia (não a uma grande distância: numa escala real, a um quarteirão ou dois, às vezes só uma esquina).
Neste processo de busca de ligações, eu escrevo quase sempre sobre a minha infância. As imagens que vêm da infância são inesquecíveis: as flores no jardim da minha mãe, o meu vestido favorito de veludo preto, o dia em que o meu irmão tentou cortar as pestanas por serem compridas e lindas e por toda a gente lhe dizer que ele era suficientemente belo para ser uma rapariga... De certo modo, estas imagens e memórias são pontos de referência. Eu tenho um fraco sentido de orientação. Por vezes, de frente para o Norte, não consigo lembrar-me se o Leste está à minha direita ou à minha esquerda. Nestes momentos de desorientação, vejo-me num quarto em Ashya, no Japão, onde a minha mãe me ensinou os pontos cardeais: a varanda indica o Sul, o piano o Leste, a porta para a cozinha o Oeste, a tela bordada da minha mãe fixada, a Norte, à parede. Nos poemas e na vida, as memórias indicam o rumo - e impedem-me de me perder.
(versão minha do depoimento da autora reproduzido em The invisible ladder, selecção e organização de Liz Rosenberg, Henry Holt and Company, Nova Iorque, 1996, p. 123).
Sem comentários:
Enviar um comentário