Quando nós, de meninos,
vivemos a doença
de criar passarinhos,
e as férias acabadas
o horrível outra-vez
do colégio nos pôs
na rotina de rês,
deixamos com Horácio
um dinheiro menino
que pudesse manter
em vida os passarinhos.
Poucos dias depois
as gaiolas sem língua
eram tumbas aéreas
de morte nordestina.
Horácio não comprara
alpiste; e tocar na água
gratuita, para os cochos,
certo lhe repugnava.
Gastou o que do alpiste
com o alpiste-cachaça,
alma do passarinho
que em suas veias cantava.
- João Cabral de Melo Neto
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