domingo, setembro 13, 2009

Estas

são as semanas desoladas, sombrias
em que na sua aridez a natureza
rivaliza com a estupidez humana.

O ano despenha-se na noite
e o coração é um abismo
mais fundo que a noite

nesse vazio varrido pelo vento
sem sol, sem lua nem estrelas
apenas uma estranha luz do pensamento

que lança um tenebroso fogo –
rodando sobre si mesma até
no frio incendiar-se

e revelar ao homem algo que ele
desconhece, não a solidão
em si – não um espectro

ainda que o pudesse abraçar - vazio,
desespero – (gemendo
soluçando entre

as chamas e os estrondos da guerra;
casas em cujos aposentos
o frio ultrapassa o imaginável,

aqueles que se foram e que amávamos
vazias as camas, húmidos os
sofás, as cadeiras sem uso –

Oculta-o algures
longe do pensamento, deixa-o criar
raízes e crescer, salvo de olhos e ouvidos

ciosos – por si somente.
A esta mina chegam para escavar – todos.
Será isto o contraponto da música mais

suave? A fronte da poesia que
ao ver o relógio parado, diz:
Parou o relógio

que ontem trabalhava tão bem?
e ouve o som das águas do lago
salpicando – agora petrificadas.

- William Carlos Williams

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