domingo, setembro 27, 2009

e passar sobre as coisas, sugar-lhes o som até as extirpar do seu nome, desenvolver disso uma flor de raiz sombria, um enfeite de carne intocável, que às tantas deixou até de se ver, mas alguém disse que viu, alguém ouviu falar. e às coisas, ignorá-las, deixá-las de fora e escrever, escrever até à exaustão: erguer os muros de uma prisão livresca, fazer vítimas, reféns, prisioneiros – que belo exercício! – cantar, cantar numa entoação perfeita, levá-los através do esquecimento por uma imaginação alérgica às coisas. encantá-los a todos, numa entoação, oh!, mais que perfeita, assaltando (justamente) até o ritmo em que respiram, ortograficamente sim, gramaticalmente irrepreensível. que exercício devastador!, o mais extremo exercício: a beleza cada vez mais funda no vazio, eco de um eco sem nenhuma outra relação, até vencer Deus, pois que mais?, e completar a desertificação. belíssimo!, e não, claro, obrigado. não bato mais palmas mas é das mãos que as tenho já em sangue. Agora, se me desculpar, gostaria de voltar atrás. tenho saudades do cheiro, sabe?, e da consistência dos pêssegos...


ou (e longe de querer ofender):

passar sobre as coisas, sugar-lhes o som
até as extirpar do seu nome, alimentar disso
uma flor de raiz louca, um enfeite de carne
intocável, que às tantas deixou até de se ver,
mas alguém disse que a viu,
e alguém ouviu falar.

e às coisas, ignorá-las, deixá-las de fora e escrever,
escrever até à exaustão: erguer os muros de uma prisão
livresca, fazer-lhe vítimas, reféns, prisioneiros – que belo
exercício! – cantar, cantando numa entoação perfeita,
levá-los através do esquecimento
por uma imaginação com nojo às coisas.

encantá-los a todos, numa entoação
oh! mais que
perfeita, assaltando (justamente) até o ritmo
em que respiram, ortograficamente sim,
gramaticalmente irrepreensível. que exercício
devastador!, o mais extremo exercício:
a beleza cada vez mais funda no vazio, eco
de um eco sem nenhuma outra relação,
até vencer Deus, sim,
que mais?, e completar a desertificação.

belíssimo!, e não, obrigado claro.
não bato mais palmas mas é das mãos
que as tenho já em sangue.

Agora, se me desculpar, gostaria de
voltar atrás. tenho saudades
da cor, veja só,
e do cheiro das rosas...

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