sábado, setembro 26, 2009

A Diária

Um fósforo aceso no escuro Lisboa
Muito cedo. Passa do muro indigo
às casas; e vai resgatando partes
Do arvoredo. Põe a traqueia em risco
Fedegosa – Sabias? Vamos para o emprego.

A pequena actriz procura trabalho
E deixa-se foder. Entram padrões
De consumo a erguer o riso muito
Mais em baixo: espectáculos de rua.
São argolas de um muro... presas
Onde o rio – bate, farmacopeia sua.

Enquanto dois velhos sonâmbulos
Ptão e Raz, concebem disto – a fundo
Uma nova peça para antigos amos:
Cedo Lisboa raspada num fósforo cheira
Um pouco a terebentina e mar. Um gato

No casco, mija para entrar no segredo.
Por mais folhas que suba o sol
Segura mal velhos observatórios
A templos recentes. Tal como
O país terá de escolher: ou menos
Puta ou melhor actriz.

- Gil de Carvalho

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