sexta-feira, agosto 07, 2009

No Limits No Control


Podia contar-lhe o que se diz em Portugal dos artistas, e dos cineastas portugueses, mas não quero angustiá-lo... Mas, portanto, "Os Limites do Controlo" narra a história da vingança da margem sobre o centro?

A vingança é inútil [uma má escolha de palavras do entrevistador proporcionou a "recriação" de um diálogo do filme: na cena final, Bill Murray pergunta a Isaach de Bankolé "Isto é o quê, uma vingança?" e Isaach responde, exactamente como Jarmusch, "A vingança é inútil"]. É uma metáfora, uma metáfora de uma tomada de consciência e de uma afirmação da consciência contra todas as imagens e ideias que lhe são impostas de fora. A personagem de Bill Murray é uma representação dos poderes convencionais de todo o tipo, político, económico, cultural. Nunca pude com aquele cinismo disfarçado de pragmatismo, que agora está outra vez na moda, que nos quer convencer de que o mundo é "assim" e só "assim". O "vocês não sabem nada da vida", o "não é assim que o mundo funciona", seguido da conveniente explicaçãozinha cínica. Têm que escrever a pensar nisto, têm que fazer filmes a pensar naquilo - sempre "as massas" e, o que é igual, o "dinheiro". Abdiquem da vossa individualidade, abdiquem da vossa imaginação. Ao diabo com essa gente toda. O discurso da personagem de Bill Murray nessa cena é um repositório desse tipo de frases feitas.

excerto da entrevista hoje no Ípsilon


3 comentários:

Indefinível disse...

Ah, o eterno mito da perseguição da criatividade! E sim, que coisas terríveis se dizem dos artistas em Portugal... Portugal, o país que não tem dinheiro para a escola da Maria João Pires, mas onde o Ministério da Cultura esbanja recursos em peças de "teatro" sobre a cor azul. De facto, estes artistas são muito mal tratados em Portugal...

Por favor, este discurso já enerva. Ficaria bem a entrevistador e entrevistado, e a toda a nossa cultura, alguma humildade. Gostaria de ver o senhor Jarmusch a discutir ideias dialeticamente, tal como se entrevistador, em vez de colocarmos dois chauvinistas da arte como valor absoluto a fazerem massagens um ao outro, disparando na mesma direcção frases feitas. Porque toda a entrevista é um conjunto de fases feitas, quer nas perguntas como nas respostas. É o mesmo mal que apontam nos outros.

E os próprios blogs que reportam estas coisas deveriam ter um perspectiva crítica sobre este género de opiniões (e quaisquer outras). Mas enfim. O mais grave, e o mais triste, é que provavelmente as pessoas ouvem o que diz este Jarmusch e aceitam sem nem sequer pensarem que esta vitimização idiota está suportada em preconceitos e não em factos. E é por isso que ele e quem lhe dá voz não gostam de factos.

(Já agora, este post nem sequer diz que o entrevistado foi o Jarmusch, e o link não dá para a entrevista mas para o site geral do Ípsilon.)

RMR disse...

Caro indefinível,
não se enerve, ainda vai a tempo de superar estes e outros chauvinismos. Vai já bem lançado ao conhecer as fronteiras da humildade; o valor supremo da dialéctica sobre a opinião, o discurso ou a experiência; a noção dos valores absolutos e todo o léxico das frases feitas; o juízo da gravidade e da tristeza - e esse dom, apenas para muitos poucos, de saber o que todos os outros deveriam ter, mas de quem pouco mais se pode esperar, já tudo aceitam e nem sequer pensam.

Somos todos inmerecedores da nossa existência, deveríamos ser meros elementos servis, bem liderados por visionários de sabedoria inexplicável, de moral inexprimível, humildade indeterminável, ou simplesmente indecentemente cretinos.

Indefinível disse...

Mas que belo exercício de estilo! Infelizmente, vazio. Já entendi que sabe usar adjectivos, agora gostaria de conhecer a sua opinião acerca do assunto. E, quando quiser expressá-la, aqui estarei para a discutir.