1.
Levanto-me para a cruz de claridade da janela.
Vejo afastar-se ao nevoeiro o corpo.
Pelos mais improváveis dos caminhos
a natureza responde-me:
dentre os ramos das flores caídas
a ironia da sombra sobre o peito deitado.
A esperança de sobreviver ao inverno que vem
estende-me ao sol de areia deste verão mortal.
Uma asa de cinza corre no crepúsculo
branca e difícil contra os rubros
nimbos abatidos sobre o mar.
2.
Não sei bem quem morre quando morrem os mortos.
Os olhares dos outros voltados sobre nós
apostam se valemos bastante a despedida.
As supostas mágoas somam dividendos
aos tempos vários e felizes em que permanecemos.
A morte somos nós a calcular a palmo
o choro organizado e o que vamos fingir a seguir.
O nosso revólver sobrevivente dispara
que também somos, que bom, grandes face ao que morreu.
Na putice das letras morre-se sempre a jeito
para a momentânea maior glória dos vivos.- Joaquim Manuel Magalhães
terça-feira, julho 28, 2009
Para o Ruy Belo
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poesia de fora
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