segunda-feira, junho 08, 2009

Silogismos da Amargura

§ Falhar a vida é aceder à poesia - sem o apoio do talento.

§ Despojar a literatura do seu disfarce, ver o seu verdadeiro rosto, é tão perigoso como desapossar a filosofia da sua algaraviada. Limitar-se-ão as criações do espírito à transfiguração de bagatelas? E apenas existirá alguma essência fora do articulado, no rito ou na catalepsia?

§ As "fontes" de um escritor são as suas vergonhas, aquele que as não descobre em si, ou que se lhes furta, está votado ao plágio ou à crítica.

§ Quem se apoderou dos rudimentos da misantropia, se quiser ir mais longe, deve ingressar na escola de Swift: aí aprenderá a dar ao seu desprezo pelos homens a intensidade de uma nevralgia.

§ Embuste do estilo: dar às tristezas habituais um aspecto insólito, embelezar pequenas infelicidades, adornar o vazio, existir pela palavra, pela fraseologia do suspiro ou do sarcasmo!

§ Para quem respirou a Morte, não há desolação maior do que os odores do Verbo!

§ Mais do que ser um erro de fundo, a vida é uma falta de gosto que nem a morte nem sequer a poesia conseguem corrigir.


E. M. Cioran (edição Letra Livre e traduzido por Manuel de Freitas)

e isto é só o princípio...

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