sábado, junho 13, 2009

Silogismos da Amargura (2)

§ Das «verdades», já não queremos suportar o peso, nem sermos delas vítimas ou cúmplices. Sonho com um mundo onde se morresse por uma vírgula.

§ Só os espíritos superficiais abordam uma ideia delicadamente.

§ Estando gastos os modos de expressão, a arte orienta-se para a ausência de sentido, para um universo privado e incomunicável. Uma vibração inteligível, seja em pintura, música ou poesia, parece-nos, com toda a razão, obsoleta ou vulgar. O público desaparecerá em breve; a arte não tardará em segui-lo.
Uma civilização que começou pelas catedrais tinha que acabar no hermetismo da esquizofrenia.

§ Essa espécie de mal-estar quando tentamos imaginar a vida quotidiana dos grandes espíritos... Por volta das duas da tarde que poderia Sócrates andar a fazer?

§ Uma poesia digna desse nome começa pela experiência da fatalidade. Apenas os maus poetas são livres.

§ Uma moda filosófica impõe-se tal como uma moda gastronómica: não há qualquer diferença entre contestar uma ideia ou um molho.

§ Aprofundar uma ideia mais não é do que ofendê-la; é tirar-lhe o encanto, ou até mesmo a vida...


- E. M. Cioran (edição Letra Livre / traduzido por Manuel de Freitas)

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