quinta-feira, junho 11, 2009

na primeira portada da noite alastra o seu vermelho
os seus modos de perna estendida
a sua mão lenta pendendo do sofá
numa confusão de corpos
meio cheios meio vazios
papéis rabiscados restos de cinza
do hábito de segurar entre dedos
o cigarro até chegar o outro modo de respirar
onde o coração não dispara tanto ou dispara menor

no vermelho da noite um plano de bomba
tropeçando em livros pelo chão
seguimos em magotes pelas ruas mas somos apenas dois
nesta cidade roma e os versos
que de catulo estão rabiscados nas paredes
(pedicabo ego uos et irrumabo
Aureli pathice et cinaede Furi
qui me ex uersiculis meis putastis
quod sunt molliculi parum pudicum)
servem para saquear dos restos do poema
o seu vermelho e azul de cântaro

porque já sabemos o que somos quando ele se partir:
tochas de arder tudo breve e apagar
iluminaremos apenas duas ou três palavras
antes da sombra antes de tirar os sapatos e
deixar os pés lisos nos escombros
dentro deste não estar posto
em sossegos de azul e olhos

de tanto percorrer o rumor caiado das casas
pusemos em fogo o que restava da cidade
é procurar agora o melhor ângulo
para lhe agarrar o instante de olhar
a sua areia quando se mover
das pálpebras cerradas
e a sua maneira de bicho encerro
de escorrer de mão em mão
entre os dedos
fortes
de fazer estalar o tempo
antes de chegar de vez a noite e pôr
tudo a saque

Sem comentários: