Deram-me a riqueza,
mas não me disseram o que fazer com ela.
Ievgueni Ievtuchenko
Não há outra coisa que eu espere – à minha própria casa
cheguei como um hóspede inesperado e, só então,
os meus olhos se sentiram à vontade com o excesso
de mobília, com os retratos, as carpetes, os castiçais e os livros,
tudo desviado como rostos que sorriem para um jardim
que fica para lá do jardim de rosas que o meu avô mandou
plantar para a minha avó.
Eu era pequeno ainda, agora recordo-o, quando
pela primeira vez descobri o desconfortável que uma casa
cheia de livros chega a ser.
Falavam-me sobre o martírio de um santo que o meu pai,
não sem uma ligeira demonstração de horror materno,
me aconselhou a menosprezar. Chorei, era uma criança,
incapaz de aceitar o cepticismo como coisa felina.
Era feliz, consigo lembrar-me, com a minha consciência
a flutuar nas prateleiras da história e não o contrário.
Desde então apenas procuro isto: sentir-me à vontade,
ocasionalmente, como uma visita que surpreende
a própria casa onde mora.
1 comentário:
Gostei David =)
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