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a memória atraiçoa-nos com uma precisão metálica, a sua procura é transviada, recolhe-se a locais de claridade cega, desesperada. e aí o único fio que sustém ainda a loucura das palavras é uma angústia latente, irrisória, como um animal morto e quente de olhos abertos e o horizonte nas pupilas infinitamente mínimo e todo.
espero. as palavras começam por vir uma a uma vagamente.
de início parecem sons perdidos no meio da noite
depois respondem-se como os navios ao nevoeiro
nesta costa do atlântico donde se esquece o mar
tento escrever-te e nada mais leio que a dureza das
palavras a bater pela frase, frase. a minha loucura é
de uma angústia fina, mínima, perigosamente fendada e
infinitamente suspensa, um acaso a sustém e a perde;
e eu nada mais posso que escrevê-la mudo e estranho.
o deserto, um desenho cinzento
o sol a brilhar para lá do vidro
um rio entre as vozes
- Eduardo A. S. Guerreiro
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