terça-feira, janeiro 13, 2009

Argumentum e Silentio

Para René Char

Acorrentada
entre o ouro e o esquecimento:
a noite.
Ambos a desejaram.
A ambos se ofereceu.

Põe,
põe tu também ali o que
amanhecerá com os dias:
a palavra sobrevoada de estrelas,
submersa pelo mar.

A cada qual sua palavra.
A cada qual a palavra que cantou para ele,
quando a matilha o atacou pelas costas –
A cada qual a palavra que cantou para ele, petrificando.

A ela, a noite,
sobrevoada de estrelas, submersa pelo mar,
a ela, ganha pelo silêncio,
a quem não gelou o sangue quando o dente venenoso
atravessou as sílabas.
A ela a palavra ganha pelo silêncio.

Contra as outras que breve
prostituídas pelos ouvidos dos verdugos
também escalarão o tempo e os tempos
dá por fim testemunho,
por fim, quando se ouvirem apenas as correntes,
dá testemunho dela que ali jaz
entre o ouro e o esquecimento
unida a ambos desde sempre –

Pois onde
clareia então, diz, se não junto dela,
que na região torrencial das suas lágrimas
aponta a sementeira aos sóis que ali mergulham
uma e outra vez?

- Paul Celan

Sem comentários: