segunda-feira, novembro 03, 2008

Sobre Ovídio, Metamorfoses, vv.661-862

Sou um dardo de um homem chamado Céfalo cuja esposa se chama Prócris direi a vida gasta-se nas lajes dos pavimentos sem que cheguemos a conhecer desde crianças o valor exacto em moeda corrente do quanto vale ter a brisa nos lábios Sou um dardo de um homem cuja esposa se chama a vida gasta-se nas lajes dos pavimentos em esperas em antecâmaras ao fechares os olhos já sem esperança quando os abrires já lá não está a brisa Sou um dardo de um homem chamado Céfalo cuja esposa nem o corpo quadrado cinzento vale alguma coisa no chão sangue baço que escorre contra o amplexo do tempo na parede eu sou o dardo um outro tipo de amplexo Sou um dardo de um homem chamado Céfalo cuja esposa uma outra espécie de brisa sou o dardo mas queria dizer-te que danço onde a madrugada te falha nos dedos sou uma obra de alta engenharia o trabalho habilidoso de um artesão muito experiente sou semelhante às manhãs sem rosto nem nome sou parecido com as horas dos crocodilos nos pântanos como a brisa da tarde como a caça que foge hesitante da morte certa e que eu habilmente persigo sou até quase um símbolo fálico (queria ser sem nome embora o meu nome me tivesse sido posto por outro homem que não meu pai after a character in a book of Pushkin) a vida gasta-se-nos nos nomes nem sequer chega a estar no silvo do dardo que se recorta contra o escuro onde a brisa nos falha e engana Eu sou o dardo de um homem chamado Céfalo casado com Prócris mulher por ele muito amada hoje Céfalo leva-me à caça e Céfalo gostava de invocar a brisa mas o que sucedeu foi que Prócris julgava que Céfalo o traía com uma mulher chamada Brisa de tanto ele a invocar e resolve segui-lo enquanto caçava Céfalo julga ouvir um animal restolhar na folhagem e lança o dardo aquilo que não tivéssemos sido somo-lo muitas vezes nem sei porque ainda hoje me mantém Céfalo na sua companhia mas nunca de mim se afasta

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