I
Que pedes ainda à vida
nestas alturas do fracasso:
a dose necessária de beleza;
um sabor nos dias;
a usura na memória de um amor
impossível; e, com sorte,
um poema.
II
"Viste?"
"Sim"
"Durou tão pouco"
"Mas a sua luz ainda dói"
III
Os espelhos são o caminho
Por onde vem e vai a morte.
O seu azougue cinzento grava e emite
O bater do pêndulo do tempo
Como castigos que sulcam o olhar
E despojam a vida.
Da minha vigia solitária,
Teria sentido abrir a válvula da memória
Agora que já não dói?
Como fotografias alheias, sépias
E pouco fiéis, tentarei
Agarrá-las e esquecê-las antes que o tempo se acabe.
(Traduções de David Teles Pereira)
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