a beleza habita sobre a terra,
tão urgente e impronunciável
como o rosto em trompe l'oeil
na abóbada da igreja de São Roque.
Com isto, estarei talvez a fazer
a mesma triste figura da rapariga espanhola
que ao meu lado rabiscava poemas
dialécticos — «Argumentos» e «Contra-
Argumentos» velozmente incinerados
pela fundamentação física do génio.
Nós, poetas, só escrevemos disparates.
A beleza, dizia eu. Mas os meus pés,
o seu indiscutível peso sobre a terra,
coincidiam com o mármore da sepultura
número 44 (dois terços de paixão, outro de pó).
E aquele homem ajudava-nos a morrer
melhor.
- Manuel de Freitas
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