segunda-feira, outubro 20, 2008

Eventualmente passo dias inteiros sangrando
(por negar-me a ser mãe).
O ventre vazio sangra
exagerado e implacável como uma mulher enamorada.

Se os filhos não saíssem nunca
do corpo das suas mães
juro que teria um agora mesmo
para senti-lo crescer dentro de mim
até me possuir como numa sessão espírita
ou como se o meu bebé e eu
fossemos bonecas russas
uma cheia da outra
mamã cheia de bebé.

Também teria um filho
se eles fossem sempre bebés
e pudesse sustê-lo em meus braços acima da realidade
para que o meu menino nunca pusesse os pés na terra.

Mas eles chegam a ser

tão velhos como qualquer um.

Não alimentarei ninguém com o meu corpo
para que viva este suicídio em cotas que eu vivo.

Por isso sangro e tenho cólicas
e aperto este ventre vazio
e engulo comprimidos até adormecer e esquecer
que me esvaio na minha negação.

- Miriam Reyes

1 comentário:

Ana disse...

Potente ;)